Vivemos hoje um boom nos procedimentos estéticos e com as redes sociais, precisamos tomar muito cuidado com o nível de evidência científica e segurança do que chega de informação.

A aplicação de toxina botulínica é amplamente realizada nas clínicas de dermatologia, porém, existem algumas indicações médicas do seu uso e que não devem ser banalizadas e encaradas como estética. Uma dessas aplicações é a que realizamos no músculo trapézio, nos ombros. Essa mesmo que de repente virou tendência de procedimento estético.

O que é “Barbie botox”? 

Recentemente, surgiu uma tendência viral nas mídias sociais chamada “Barbie Botox”, que tem feito com que mulheres jovens busque esse procedimento à base de toxina botulínica para imitar a aparência da atriz principal do filme, Margot Robbie.

O procedimento, também conhecido como “Trap Tox”, significa uso de toxina botulínica, mais popularmente conhecida como botox, no músculo trapézio, que é o músculo dos ombros. 

Essa área de aplicação do botox já é abordada por nós, médicos, para tratar enxaquecas e dores nos ombros ou costas. Sempre foi uma indicação médica, para aliviar sintomas, e não uma indicação estética. 

Mas desde que o filme “Barbie” foi lançado em julho, houve um aumento na demanda pelo uso como procedimento cosmético e uma alta procura pela hashtag BarbieBotox.

O procedimento supostamente emagrece e alonga o pescoço e de alguma forma isso foi atribuído à atriz que interpreta a Barbie.

É importante mencionar que a aprovação dessas injeções de botox para fins cosméticos se limita apenas a procedimentos que envolvem a face, tornando o uso da injeção no trapézio “off-label”, ou seja, caberia ao médico injetor julgar como apropriado o seu uso. 

Como é a aplicação de “Barbie botox”? 

O procedimento envolve a injeção de cerca de 40 unidades de toxina botulínica em cada músculo trapézio, ou seja, 40 unidades por lado. Para nível de comparação, quando tratamos as rugas do terço superior do rosto usamos entre 60 e 80 unidades de toxina botulínica. 

Qual o efeito do “Barbie botox”? 

Aproximadamente 3 semanas depois, os efeitos completos resultam em músculos trapézios atrofiados, dando a ilusão de um pescoço mais longo, tipo “Barbie”. Isso pode ser mais perceptível em algumas pessoas do que em outras.

A injeção é usada como indicação médica para relaxar os músculos e pode melhorar a postura, a rigidez e dores do pescoço, ombros, braços ou dores de cabeça do tipo tensional ou enxaqueca.

Quais os riscos do “Barbie botox”? 

Quando utilizado com uma boa indicação e por médicos capacitados, tratar o músculo trapézio não envolve muitos riscos. Porém estamos falando de músculos que já são hipertrofiados e tensos. Estamos falando das indicações médicas que sempre foram feitas. 

Se você começa a usar com fins estéticos e enfraquece um músculo que não era hipertrofiado antes, pode gerar uma fraqueza nos ombros, pescoço e braços. 

Além disso, a grande preocupação é que hoje existe pouca regulamentação de quais profissionais estão aptos a realizar aplicação de toxina botulínica. 

Nosso medo é de trazer algo que tinha uma indicação médica para o mercado da estética e começar seu uso por profissionais não capacitados. Quando injetado no local errado, pode causar até mesmo dificuldade para respirar.

Qual a indicação do “Barbie botox”?

Indicamos aplicação de toxina botulínica no músculo trapézio para os seguintes casos:

  • Tratamento de enxaqueca
  • Tensão muscular acentuada no pescoço
  • Dores nos ombros, pescoço e costas por hipertrofia do músculo trapézio
  • Correções posturais para amenizar dores no local

Viram que não mencionei aqui afinar ombros ou alongar pescoço? Isso pode ser um benefício secundário e honestamente, nem sempre é tão percebido.

Quanto custa o “Barbie botox”?

O tratamento do músculo trapézio envolve a mesma quantidade ou mais de produto que um tratamento do rosto. Então pense que custará um pouco mais do que está acostumada a pagar para tratamento de terço superior. Em geral, custará algo em torno de 2 mil reais. 

Barbie Botox é seguro? 

Sabemos que a segurança de qualquer procedimento está relacionada à técnica utilizada e a quem está aplicando. Até hoje, o tratamento do pescoço vem sendo realizado apenas por médicos. Se for difundido para profissionais não capacitados, provavelmente passaremos a ver um maior número de efeitos adversos.

Minha posição sobre isso é que não indicarei apenas para fins estéticos. Nós precisamos do músculo trapézio e enfraquecê-lo sem indicação pode gerar uma fraqueza local que demoraria meses para ser resolvida.

Não concordo que devam ser injetados quando não estão sendo usados ​​em excesso ou quando estejam hipertrofiados. Se enfraquecemos demais o músculo trapézio, perdemos o fortalecimento da parte superior das costas e a base do pescoço e teremos inclusive uma piora da postura. Deixar esse músculo fraco demais certamente não é seguro. 

Cabe a nós médicos questionarmos sempre. Não faz sentido sairmos “experimentando” nos nossos pacientes apenas por uma pressão de redes sociais. Segurança e boa indicação sempre precisam estar em primeiro lugar. 

Porém, se estiver na dúvida se esse procedimento pode ser para você, converse com um médico experiente. Ele irá examiná-lo e explicar os prós e contras. Tomem sempre cuidado com tendências de redes sociais e banalização dos procedimentos. 

Existe risco de resistência ao botox?

Se utilizados de forma cautelosa e segura, o risco é pequeno. Porém, se aplicarmos grandes quantidades de Botox ou outra toxina com muita frequência, podemos perder o efeito com o tempo. E não queremos que isso aconteça.

É importante enfatizar aqui que o intervalo mínimo entre as aplicações de botox deve ser de 3 meses. E você deve considerar isso inclusive quando for aplicar em áreas diferentes.

Será que vale a pena injetar quantidades tão altas nos ombros apenas para um possível benefício de alongar o pescoço? Um benefício que em algumas pessoas poderia nem ser tão notado? 

Vocês não preferem reservar o uso da toxina para as rugas faciais ou para questões médicas que realmente te incomodam, como enxaqueca, bruxismo ou rosácea? Vale uma reflexão sobre isso.

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